Chernobil ' 86. Um reator nuclear entrou em colapso, às 01:23 hora local. Muitas pessoas morreram. 135.000 foram evacuadas. A explosão espalhou 200 vezes mais radiação do que as bombas de Hiroshima e Nagasaki combinadas. Criou-se a denominada "Zona de alienação", um lugar onde a vida humana é proibida. Um deserto de pó, concreto e destroços. Chernobil se tornou um sinônimo para "desatre horrível".

"Sempre que eu pensava sobre as terras irradiadas a 50 milhas do norte de Kiev, era como contemplar um buraco negro. Tudo que eu podia imaginar era uma zona morta, como um gigantesco estacionamento pavimentado com asfalto ou um deserto infértil de pó e cinzas onde nada poderia crescer e nada que vive conseguisse sobreviver sem equipamentos de proteção. Apenas crescentes escalas de preto e cinza coloriam minhas imagens mentais." disse Mycio, autor do livro Wormwood Forest: A Natural History of Chernobyl (2005).

Mas, como o próprio autor do livro pôde analisar depois, há vida crescendo aos arredores de Chernobil. Não humana, que se apresse a dizer. "Apesar de Chernobil ser considerara o pior desastre ambiental de toda a história, a evacuação da Zona permitiu - paradoxalmente - que a natureza florescesse. A natureza mal percebe a radiação - ao menos o tipo e níveis de radiação emitidas por Chernobil. As atividades humanas são, de longe, mais danificadoras. De certa forma, nós somos o desastre ambiental." reporta Mycio.

Se o desastre não ocorresse, seria mais provável que o meio ambiente fosse contido pelas ações humanas. Dez anos após o desastre, Mycio descobriu uma grande variedade de animais selvagens, ainda maior do que o período anterior ao desastre. Muitos dos animais encontrados são membros de espécies raras ameaçadas de extinção. Como as florestas, campos e pântanos, tudo é radioativo, e continuará sendo pelos próximos 400.000 anos.

"Um dos primeiros exemplos de como, na absência de intevenção humana, a natureza na Zona pôde recuperar seu equilíbrio - mesmo em face à radiação: 'cidades-fantasma e villas jazem em um trágico testemunho aos efeitos devastadores da tecnologia'." completa Mycio.


Texto adaptado / Leukotomy




Misanthropic V

14 Junho 2007, 23:34
Medo de que um carro de polícia pare no acostamento.
Medo de cair no sono à noite.
Medo de não cair no sono à noite.
Medo do passado que se levanta.
Medo do presente levantando vôo.
Medo do telefone que toca no silêncio mortal da noite.
Medo de tempestades.
Medo da faxineira que ganhou um beijo na bochecha.
Medo dos cachorros que me disseram não morderem.
Medo de ansiedade!
Medo de ter que identificar o cadáver de um amigo.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de possuir muito, muitas pessoas não acreditarão nisso.
Medo de perfís pscicológicos.
Medo de estar atrasado e medo de chegar antes que todos os outros.
Medo da caligrafia de meus filhos em um envelope.
Medo de que morram antes de mim, e me sentir culpado.
Medo de viver com minha mãe em sua velhice, e a minha também.
Medo de me sentir confuso.
Medo de que este dia acabe com uma nota triste.
Medo de acordar e descobrir que você se foi.
Medo de não amar e não amar o suficiente.
Medo de que aquilo que amo se provará letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver longamente.
Medo da morte.
Isso eu já disse.

"Medo" Raymond Carver


/ Leukotomy




Misanthropic IV

11 Junho 2007, 21:39



Corremos. Corremos para elas... e nos dopamos. Nos dopamos. Sentimos alívio e prazer.
Sabemos que estamos compensando toda a existência perdida. Compensando cada segundo de tédio, de vazio interior. Olha só como você está feliz. Alcançou o auge... A perturbação, aquele sentimento que te caça e não te dá misericórdia - tudo se foi.
Que sensação mais... indescritível.
estímulo confiança bem-estar ultra-relaxamento psicodelia sensualismo inibição euforia calmo motivação tranqüilidade ópio
ansiedade confusão paranóia agressividade sonolência distorção realidade pesadelo sensações obsessivo-compulsivo bizarro amnésia desordem





Texto / Leukotomy

Misanthropic III

08 Junho 2007, 00:26

Nossas vidas são preenchidas por um vazio. Um vazio que nos consumiria caso não projetássemos nossos esforços na fantasia. É a fantasia, em suas diversas manifestações, que nos proporciona algo a mais em nossa pacata existência.

Há filmes, livros, músicas, jogos, peças de teatro e muito mais para nos entreterem. Tudo que exigimos é que nos despertem as emoções. Mas, como já se sabe, excessos são prejudiciais. Então, um dilema: devemos nos preencher com a fantasia e os prazeres que ela nos traz, ou devíamos continuar na inércia do vazio de nossa existência? A resposta está no equilíbrio das dualidades.

Deixar-se alienar pela fantasia é abandonar a realidade do seu ser, daquilo que o torna único. Mas sucumbir ao vazio, ao estável - à falta de emoção - é tornar-se comum, negando, novamente, o que o torna único. O imprescindível é saber dosar a fantasia e a realidade e separar ambas.


Texto / Leukotomy